sexta-feira, 3 de agosto de 2018

[ Offigunt Implicantque ]


Entrelaço em cada fio de cabelo a matéria-prima da qual sou feita. O gesto é leve e nem sente o peso da Vida. Há intimidade entre cada fio e o toque dos dedos, um a um é uma história. 
A minha, das minhas! 



 

2 comentários:

  1. Cabelos - Cesário Verde

    Ó vagas de cabelos esparsas longamente,
    Que sois o vasto espelho onde eu me vou mirar,
    E tendes o cristal dum lago refulgente
    E a rude escuridão dum largo e negro mar;

    Cabelos torrenciais daquela que me enleva,
    Deixai-me mergulhar as mãos e os braços nus
    No báratro febril da vossa grande treva,
    Que tem cintilações e meigos céus de luz.

    Deixai-me navegar, morosamente, a remos,
    Quando ele estiver brando e livre de tufões,
    E, ao plácido luar, ó vagas, marulhemos
    E enchamos de harmonia as amplas solidões.

    Deixai-me naufragar no cimo dos cachopos
    Ocultos nesse abismo ebânico e tão bom
    Como um licor renano a fermentar nos copos,
    Abismo que se espraia em rendas de Alençon!

    E ó mágica mulher, ó minha Inigualável,
    Que tens o imenso bem de ter cabelos tais,
    E os pisas desdenhosa, altiva, imperturbável,
    Entre o rumor banal do hinos triunfais;

    Consente que eu aspire esse perfume raro,
    Que exalas da cabeça erguida com fulgor,
    Perfume que estonteia um milionário avaro
    E faz morrer de febre um pobre sonhador.

    Eu sei que tu possuis balsâmicos desejos,
    E vais na direcção constante do querer,
    Mas ouço, ao ver-te andar, melódicos harpejos,
    Que fazem mansamente amar e enlanguescer.

    E a tua cabeleira, errante pelas costas,
    Suponho que te serve, em noites de Verão,
    De flácido espaldar aonde te recostas
    Se sentes o abandono e a morna prostração.

    E ela há-de, ela há-de, um dia, em turbilhões insanos,
    Nos rolos envolver-me e armar-me do vigor
    Que antigamente deu, nos circos dos romanos,
    Um óleo para ungir o corpo ao gladiador.

    Ó mantos de veludo esplêndido e sombrio,
    Na vossa vastidão posso talvez morrer!
    Mas vinde-me aquecer, que eu tenho muito frio
    E quero asfixiar-me em ondas de prazer.


    Bom dia, Perséfone:)

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    1. Divino, esta exaltação de Cesário Verde.

      Legionário, de Bocage: " Gratidão"
      [...]
      Não sei se vens de heróis, se vens de grandes;
      Não sei, meu benfeitor, se teus maiores
      Foram cobertos, decorados foram
      De purpúreos dosséis, de márcios loiros;
      Sei que frequentas da Amizade o templo,
      Que és grande, que és herói aos olhos dela
      E eu menos infeliz que tu piedoso.
      [...]

      Vamos lá tentar sobreviver a este calo, bom dia ;)

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